29.2.08

Déjà - vu


Muitas explicações são dadas ao fenômeno do déjà-vu.
Olhando pela Psicanálise, este fenômeno está ligado ao desejo.
Ao desejo inconsciente.
Podemos correlacionar com os sonhos.
Neles, também, os desejos inconscientes se manifestam e se realizam e parecem-nos muito reais. A correlação é que se trata da realização de desejos.
Acontece que não ficamos atentos que nossos desejos nunca são esquecidos; não percebemos isso com exatidão, já que é uma ocorrência inconsciente.
Os desejos ou se realizam e nos satisfazem ou aguardam oportunidade para que isto aconteça - neste último caso é que não é comum percebermos ou termos consciência disso.
O déjà-vu é uma impressão, ou um desejo muito intenso, guardada em nossas mentes.
É muito mais comum do que se pensa.
Não ocorre somente com lugares, mas também com pessoas - quando temos a impressão de já tê-las visto - ou mesmo com algumas conversas das quais parece já termos participado.
Para o inconsciente não há noção de tempo ou realidade.
O desejado é vivido mentalmente e no momento em que estamos sonhando, a imagem é reconhecida pela mente como uma vivência.

Por semelhança, por contraste ou por contiguidade, ao estar no local, podemos ter a sensação de já ter estado lá.
Na maioria das vezes o déjà-vu é seguido de uma pequena frustração, ou decepção; as explicações populares nos ajudam a esclarecer este fato.
É comum dizer que algo muito esperado, quando se realiza parece menos do que imaginamos. Isto é verdade e diretamente proporcional ao tipo de desjo. Se o desejo for do tipo realização "total", "plena", a realidade sempre parecerá menos intensa, ou bonita, do que se esperava.
O fato de o déjà-vu se tornar tão comum é, também, porque nossas mentes utilizam-se de um artifício enganador da verdade, uma pequena burla, que é a possibilidade de tomar a parte pelo todo.
Explicando: um fragmento conhecido, até mesmo vivido, pode nos ajudar a montar uma cena maior.
É assim nos sonhos também; com um pedacinho de realidade, montamos um sonho de poucos segundos, que nos parece ter durado horas.
Um fenômeno menos comentado, mas nem por isso de ocorrência menor, é o jamais-vu (jamais visto/jamais ocorrido).
A natureza deste fenômeno é facilmente compreendida porque é menos identificado.
Por se tratar de uma negação, de um desejo que não queremos que ocorra, retiramos da mente a sensação do que ocorrendo, ou mesmo o fato, utilizando, para isto, o mesmo tipo de "força", energia emocional que aquela usada para a sensação de algo ter ocorrido.
Tanto o déjà-vu como o jamais-vu nos ajudam a compreender, respectivamente, as simpatias e as antipatias gratuitas.
Apegamo-nos a uma parte da situação (quer seja uma pessoa, uma conversa ou mesmo um local geográfico de que gostamos ou não) e generalizamos a favor do desejo agradável, no caso das simpatias, ou desagradável, no caso das antipatias.

Armando Colognese Júnior é Psicanalista, Prof. e Supervisor do Depto. de Formação em Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae/SP.

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